quarta-feira, 14 de novembro de 2012

MISTÉRIOS E MAGIAS DO TIBETE - Chiang Sing - 1978 (*)

DOIS
O Formoso Lago dos Lótus Brancos
Após três semanas em Gangtok, conseguimos a ambicionada autorização de trânsito do Governo tibetano. Deixamos então, o palácio do rajá Dorge e partimos em direção da floresta de Nathu-Lha. Esta primeira etapa, rumo ao Tibete desconhecido, foi a mais difícil de ser organizada. As cargas deviam ser cuidadosamente ajustadas às costas dos animais, e Tsarong - o secretário particular do rajá - insistiu para que levássemos bastante agasalhos, mantimentos e chá.
Afinal, tudo ficou pronto. O rajá e suas três esposas, sempre amáveis e hospitaleiros, acenaram-nos um adeus desejando boa viagem. Generosamente, nosso anfitrião enviou-nos duas pessoas para acompanhar-nos na longa viagem. Tsering Khan, uma jovem cozinheira tibetana que ansiava rever sua terra e o Lama Dawa Kazi, que ficaria em Lhassa, terminando sua peregrinação mística. Kazi ficou sendo então o guia da nossa pequena caravana. Quando o último animal cruzou a divisa de Gangtok, e voltamos a cabeça para olhar o majestoso monte Kichijunga, sentimos grande alegria. Finalmente estávamos a caminho do mais desconhecido e misterioso país do mundo!
Cavalgamos por um caminho forrado de pedras grandes e lisas.
Algum tempo depois entramos na floresta, onde tivemos que conduzir nossos cavalos cuidadosamente, pelo caminho estreito e lamacento, ladeado por gigantescos bambus e figueiras selvagens.
Nada pode dar ideia da luxuriante mata do Himalaia. À medida Que íamos contornando o vale do rio Tista, os últimos murmúrios da civilização gradualmente desapareciam. Tivemos a impressão de que subíamos em direção às nuvens, deixando para trás este mundo científico e técnico, que tanto tem afastado o homem da Natureza...
A abundância de água nos vales do Himalaia é qualquer coisa que faz medo. Por todas as partes vimos cascatas, rios, lagos e fontes. De quando em quando lianas e cipós abriam-se timidamente, deixando ver lindas flores desconhecidas. Aos poucos pude compreender como aquela serena atmosfera pôde inspirar Sidarta Gautama, o Buda, a procurar um caminho mais rápido que levasse o ser humano à eternidade.
A voz de Mahima interrompeu meus pensamentos: - Veja! Ali está Karponang!
Vimos um aglomerado de casas brancas. Mais adiante um oceano de brumas, no qual íamos mergulhando pouco a pouco. Estávamos numa altitude de dois mil setecentos e cinquenta metros. Quando deixamos para trás a névoa avistamos o formoso lago Changu. Continuamos cavalgando durante várias horas até chegarmos à floresta de Nathu-Lha.
O caminho estava marcado por várias bandeiras de preces, como é comum no Tibete. São feitas de pele de carneiro bem curtidas, e nelas os Lamas gravam a fórmula sagrada: Om Mani Padme Hum!, que entre outras coisas significa Ó meu Deus que estás em mim. Estas bandeiras de preces são suspensas por cordões de crina de iaque: - espécie de boi peludo tibetano - e atadas a uma árvore por uma corda grossa. Oscilam nos galhos e é crença geral de que o vento leva as preces ao Criador. E o que passar por elas e agitá-las com fé, obterá o mérito da bênção de Buda, o Sublime. E quantas vezes o fizer, tantas serão as bênçãos recebidas.
Quando a caravana passou por um monte de pedras encimada por outras bandeiras de preces coloridas, com várias inscrições budistas, os tibetanos que estavam conosco desmontaram e colocaram mais uma pedra no monte, murmurando a tradicional ladainha "So Ya Lo Se." Soube depois que esta frase significa "Salve a joia do lótus!" sendo Buda a joia. Estas palavras também estão gravadas nos moinhos de orações encontrados em todos os templos e casas tibetanas.
Entardecia quando chegamos ao umbral da floresta. Resolvemos acampar numa clareira. Os animais foram aliviados de suas cargas, as tendas de couro armadas e logo acenderam uma boa fogueira. Sentamo-nos em volta da fogueira, enquanto a cozinheira Tsering Khan preparava uma frugal refeição. Quando terminamos de comer já era noite cerrada. Fazia bastante frio, pois estávamos numa grande altitude. Embora vestindo pesadas roupas de lã forradas de pele de castor, ainda assim sentíamos muito frio. Ao longe, os montes Himalaia cobertos de neve, brilhavam à luz da lua. Cansada pela longa jornada fechei as cortinas da minha tenda e fui repousar.

http://www.encontroespiritual.org/misteriosmagia/misterios201lago.html

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