sábado, 5 de janeiro de 2013

Princípio e fundamento por padre alfredinho sj
  • http://www.slideshare.net/canalfogos/princpio-e-fundamento-por-padre-alfredinho-sj
  • 1. Princípio e Fundamento A visão inaciana de Deus, do homem e do mundo
  • 2. Necessidade de uma preparação Os EE querem levar a uma verdadeira e profunda conversão, mas isso não se faz de repente. Inácio sabia por experiência própria que um fruto tal deveria ser preparado longamente. A experiência da Primeira Semana dos EE supõe um encontro com Deus que a precede e a acompanha. Portanto, uma PREPARAÇÃO
  • 3. O uso que se fazia do Princípio e Fundamento No início, o uso que se fazia deste texto era muito simples. Tendo já peparado o candidato aos EE longamente, Inácio podia simplesmente declarar o fundamento ao início, como uma visão de conjunto Quando a preparação do exercitante não tinha sido tão bem cuidada – pelo crescente número de exercitantes – o Fundamento devia ser mais que uma chamada: um tempo para familiarizar-se com o ideal que fundamenta as disposições requeridas. O Fundamento, de uma simples “declaração” que era no início, viu ser dividido em pontos e transformado em texto de meditação Necessidade de preparar bem o exercitante
  • 4. A visão inaciana de Deus, do homem e do universo “ Uma vez se lhe representou ao intelecto, junto a uma grande alegria espiritual, o modo com o qual Deus tinha criado o mundo. Parecia-lhe ver uma coisa branca, da qual saiam raios e com os quais Deus fazia luz” ( Autobiografia 29).
  • 5. Às margens do rio Cardoner, o peregrino experimentou as criaturas descendo do alto de Deus e o seu necessário retorno e reintegração no seu fim último que é Deus mesmo Nadal: “lhe foi dado não somente um claro entendimento mas também uma compreensão interna de como Deus criou o mundo e ocmo o Verbo se fez carne”
  • 6. À luz desta experiÊncia de Deus criador, princípio ou fonte sempre ativa e fim último da criação, duas verdades se impõem ao espírito de Inácio e comandarão a sua atitude muito positiva para com o mundo: uma com relação à subsistência de todas as coisas criadas em Deus; a outra explica a reordenação de todas as coisas e o dinamismo precioso que daí deriva O homem tem o poder de se elevar das coisas visíveis às invisíveis e a Deus mesmo que por meio delas manifesta a sua potência eterna e a sua divindade O ato criador imprime uma marca a toda a criação que proclama o nome de Deus “Criador e Senhor”. Este ato mesmo, que chama à existência, inculca à criação um movimento e uma reordenação
  • 7. Inácio insistiu muito sobre esta ordenação de todas as coisas a Deus: “O Senhor nosso, na sua infinita bondade, o concede habitualmente às almas que põem nele a sua morada como o princípio, o meio e o fim de todo Bem. O seu nome altíssimo seja sempre louvado e exaltado em todas e por todas as criaturas, ordenadas e criadas para este fim tão justo” (Carta a Francisco de Borja).
  • 8. “ A referência a Deus percorre todos os EE, porque estes tratam de dispor o homem para encontrar a vontade de Deus... Deus é a norma suprema que orienta a vida, e a felicidade suprema do homem se encontra somente Nele Nos EE, Deus aparece desde o início como Deus vivente, infinita Bondade, nosso Criador e Senhor, única norma absoluta da vida do homem, e tudo deve ser ordenado a Ele, à sua glória e ao seu serviço na realização do seu desígnio de amor
  • 9. Interpretação global do texto Duas partes ligadas: Na primeira parte o acento cai não sobre o fato da criação nem sobre o homem, mas sobre o fim ao qual ele é destinado; Na segunda parte o movimento de todo o conjunto, por via de dedução, se move do fim às consequências práticas : sobre estas vai cair o acento complexivo do texto O vigor do texto se concentra sobre a parte final: a norma do “tanto-quanto”, a necessidade da “indiferença” e o impulso para o “magis”
  • 10. Articulação e estrutura do Fundamento Primeira parte: “ O homem é criado: Para louvar, reverenciar e servir a Deus N.S. e para salvar, deste modo, a própria alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para ajudá-lo a alcançar o fim para o qual foi criado Segunda parte: “ Daí segue que o homem deve: Servir-se das coisas tanto quanto o ajudem a conseguir alcançar o fim para o qual foi criado e tanto deve desembaraçar-se delas quanto elas o impeçam disso. Por essa razão É necessário tornar-nos indiferentes a todas as coisas criadas (em tudo o que é permitido ao nosso livre-arbítrio e não lhe é proibido), De modo a não desejar da nossa parte Mais saúde que doença, Mais a riqueza que a pobreza, Mais a honra que a desonra, Mais a vida longa que a breve, e assim em todo o resto, Desejando e escolhendo somente o que MAIS nos conduz ao fim para o qual fomos criados”
  • 11. O Título: Princípio e fundamento “ Chama-se princípio porque ali estão incluídas as conclusões que depois se irão especificando e declarando. E se chama Fundamento porque sustenta sobre si todo o edifício da vida espiritual” (La Palma)
  • 12. Primeira Parte “ O homem é criado : Para louvar , reverenciar e servir a Deus N.S. e para salvar, deste modo, a própria alma; e as outras coisas criadas sobre a face da terra são criadas para o homem, Para ajudá-lo a alcançar o fim para o qual foi criado
  • 13. “ O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus N.S.” Acento do texto: aspecto finalistico: “Criado PARA ” O homem se define pela sua FINALIDADE: Toda a existência humana se joga neste campo de Deus-Criador. “ O homem e Deus, eis os polos extremos do movimento que é definido por duas relações recíprocas: criação e finalidade. Relações que formam um círculo, uma expressando a origem do homem a partir de Deus, a outra o movimento inverso de retorno a Deus... Todo o ser de Deus enfim se apresenta a nós primeiro como Princípio e fim de todas as coisas asim como também do seu devirdivenire, a fine di essere riconosciuto e voluto come tale dall’uomo” (Fessard)
  • 14. Louvar Israel agradece os benefícios do Senhor, louvando-o Expressa a idéia de um reconhecimento não somente exaltante daquele que é louvado, mas também exultante para aquele que louva O louvor manifesta um amor apaixonado, de admiração, entusiasmo, provocado pelo amor total de Deus amigo
  • 15. Reverenciar A reverência, que na sua origem latina recobre os significados de temor, respeito, nos conduz ao “temor de Deus” da Bíblia, indica portanto um amor respeitoso, que teme não o outro, mas teme de trair e de se esquecer do amor
  • 16. Servir A fim de que o amor seja perfeito, além de ser sensato e humilde, precisa ser estável. A isso conduz o serviço: servir é o mesmo que amar sempre Servir é aceitar a tarefa que Deus confiou ao homem, é colaborar para o cumprimento da sua obra gloriosa. Colaboração que quer ser um serviço humilde e uma homenagem sem trégua rendida à Majestade
  • 17. “ Deus Nosso Senhor” Jesus Cristo é o “Criador e Senhor”, o “Criador e redentor” (EE 229) No Exame Geral encontramos três trechos onde a expressão é claramente aplicada a Jesus. Uma é: “Quando fosse sem ofensa alguma de sua divina Majestade, e sem pecado do próximo, deveriam desejar sofrer injúrias, falsos testemunhos, afrontas, e ser tidos e julgados por doidos, porque desejam parecer-se de algum modo com nosso Criador e Senhor Jesus Cristo, e imitá-lo vestindo-se de seu traje e usando as suas insígnias, como Ele as usou para nosso maior proveito espiritual” (Const. 101) Vita Christi de Ludolfo de Saxônia: na introdução este livro traz uma longa meditação sobre o Prólogo do Evangelho de S. João. Nesta meditação Cristo é chamado de “ salutis fundamentum”, único fundamento da salvação.
  • 18. Segunda parte “ Daí segue que o homem deve: Servir-se delas tanto quanto o ajudem a conseguir o fim para o qual foi criado e tanto deve libertar-se delas quanto o impeçam disso
  • 19. Depois de ter definido os polos do ato livre – o homem e Deus – Inácio precisa que o movimento que deve unir os dois passa necessariamente pelo mundo Por meio do homem, “todas as coisas criadas” se convertem em louvor, reverência e serviço. Fazer-se indiferente não é portanto negar nada, mas sim “ abrir-se a todas as coisas criadas ” A lei do “tanto-quanto” comanda o movimento do ato livre em meio ao mundo rumo ao seu Fim. O uso das criaturas dever ser um uso ordenado
  • 20. Por esta razão: É necessário tornar-nos indiferentes com relação a todas as coisas criadas (em tudo o que é permitido à liberdade do nosso livre-arbítrio e não lhe é proibido), De modo a não desejar da nossa parte Mais saúde que enfermidade , Mais a riqueza que pobreza , Mais honra que desonra , Mais a vida longa que a breve , e assim em tudo o mais,
  • 21. Inácio considera sempre ao mesmo tempo a grandeza do homem – que expressa a sua responsabilidade no seio da criação – e a sua profunda miséria e fragilidade. Assim que o homem é considerado sempre em dificuldade e como alguém que é necessitado de Deus. Deverá continuamente ordenar-se, com a ajuda de Deus, para poder responder aos homens e a Deus Falar dos fins e dos meios é recordar o sentido do universo e da existência criada. Mas relevar a dificuldade é chamar a atenção sobre a divisão interior do homem entre a sua miséria e a sua grandeza. Esta consideração leva a cabo a passagem da situação ideal do homem à atual e concreta
  • 22. Indiferença inaciana O que não é: Não significa uma insensibilidade ou frieza afetiva Não se identifica com a ataraxia estóica ou com o ideal do herói grego Não é nem mesmo somente um renunciar a si mesmo
  • 23. O que é a indiferença : A suspensão provisória do querer Sentimento extremamente vivo e acurado do caráter provisório, passageiro e polivalente de todas as coisas que não são Deus Uma preferência, para além dos apegos naturais e íntimos, dada à ordem divina da criação que abraça todas as coisas em um movimento de amor e serviço Desejo de querer somente o que o Senhor quer.
  • 24. Liberdade de espírito Encontrar-me como a agulha de uma balança para seguir o que me pareça melhor para a glória de Deus N.S. e para a salvação da minha alma Expressa portanto uma espera paciente e repeitosa da vontade de Deus Uma graça que se deve desejar e pedir com insistência Disponibilidade em cumprir a vontade de Deus
  • 25. “ Devemos tornar-nos indiferentes …” A indiferença é um caminho: não é algo que existe ou não existe totalmente. Pode já existir numa certa medida, seja quanto à intensidade, seja quanto à área das coisas diante das quais se exerce. No início, em todo caso, é sempre imperfeita. O caminho a ser percorrido para promover a indiferença é duplo: a via ascética (empenho sério da nossa vontade) e a via do amor, sobretudo do amor pessoal a Jesus Cristo “ Nós não acabaremos nunca de nos tornarmos indiferentes, mas a repetição do ato inicial gerará pouco a pouco um habitus caracterizado por um estado de disponibilidade” (Fessard)
  • 26. A finalidade do PF não é alcançar com uma única meditação a indiferença: quem acreditasse ser capaz disso poderia interromper já os EE, porque não teria necessidade deles. Trata-se muito mais de: Fazer compreender e sentir a necessidade da indiferença Fazer tomar consciência, sem desencorajar-se, das próprias faltas nesta matéria e da dificuldade de sermos indiferentes Suscitar o vivo desejo de tornar-se indiferente Fazer desejar vivamente os EE, sabendo que o itinerário destes visa precisamente alcançar este estado espiritual
  • 27. “ De modo a não desejar da nossa parte mais saúde que enfermidade , mais riqueza que pobreza , mais honra que desonra , mais vida longa que breve , e assim em todo o restante...”
  • 28. “ Desejando e escolhendo somente o que mais nos conduz ao fim para o qual fomos criados” Esta última frase expressa o objetivo primordial dos EE: estes se propõem a criar no exercitante uma atitude permanente de decisão pelo amor, por um amor apaixonado que leva a desejar entregar-se mais e melhor Ao final do texto, o pensamento inaciano toma uma direção inesperada e magnífica: a indiferença com relação a toda a criação chega imediatamente a significar, de fato, que se deve proceder “somente desejando e escolhendo o que mais nos conduz a este fim. É o famoso “magis” inaciano. Portanto se passa de repente da indiferença a uma PREFERÊNCIA, da uma disponibilidade na espera a uma ESCOLHA
  • 29. Papel do PF no itinerário dos EE A sua função principal é de introduzir aos EE, concentrando desde o início a atenção e o empenho do exercitante sobre a necessidade de certas disposições, que devem ser adquiridas ou ao menos desejadas vivamente antes de iniciar o processo. A função do PF é também ser uma sondagem preparatória , como um apelo – ao qual o exercitante não poderá se negar – a examinar a si mesmo sob o fio do desejo. Sendo uma síntese antecipada de todos os EE, o PF não pretende ser assimilado imediatamente em toda a sua integridade mas sim ao longo de todo o retiro
  • 30. Perguntas Qual é a visão inaciana de Deus e do homem segundo o PF? Como Deus e o homem são colocados em relação um com o outro por Inácio Como se poderia hoje falar de “indiferença inaciana”? Que palavras poderíamos usar?

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