sábado, 5 de janeiro de 2013


UMA HISTORIA UMA VOCAÇÃO - FILHOS DA CARIDADE 50 ANOS - APRESENTAÇÃO

Na 2ª metade do século XIX, a industrialização se espalha na Europa: aparecem as primeiras fábricas, os primeiros trens, o início do progresso. Com estas indústrias surge a necessidade de mão de obra. A classe operária está se formando, contudo a exploração dos trabalhadores é muito grande: salários baixos, horas trabalhadas cada vez mais numerosas, saúde dos operários deficiente: tuberculose, anemia, verminoses e outras. O mundo do trabalho parece um imenso rebanho de pobres escravizados. Nasce a Internacional Socialista de pensamento marxista A Igreja nunca se deparou com tal problema e fica sem ação. Qual será o futuro deste povo abandonado? Alguns cristãos começam a perceber a gravidade da situação: Albert de Mum, Frederico Ozanam: porém, são poucos. É neste contexto que um jovem sacerdote, Emílio Anizan nascido em 06 de janeiro de 1.853 numa aldeia a 70 km no sul de Paris, faz a ligação entre esta situação e a atitude de Jesus diante do povo da Galileia quando Ele ficava comovido por tantas “ovelhas sem pastor”. O padre Anizan conhece muitos bairros pobres de Paris e entra em contato com este povo trabalhador: seu coração não pode aceitar tal situação: como Jesus, ele tem “compaixão deste povo” ainda mais porque a maior parte não sabe que é amado por Deus. Conhecendo os pobres de sua época e observando que muitos deles não tinham acesso aos sacramentos, por causa da conjuntura social, com os efeitos da revolução industrial (neste período, os trabalhadores tinham uma jornada diária de 14 a 16 horas de trabalho) Padre Anizan, pede para entrar nos Irmãos de São Vicente de Paulo, devido à proximidade destes religiosos com o povo simples e trabalhador. Primeiramente atuando como missionário, depois será eleito Superior Geral da Congregação dos Irmãos de São Vicente de Paulo. Com o passar dos anos, visitando estas famílias ele reúne grupos de trabalhadores. Estava preocupado com a vida deles. Em 1.891 o papa Leão XIII escreve uma carta ao povo cristão (chamada do título em latim “Rerum Novarum” denunciando a triste situação dos operários. O padre Anizan aproxima-se dos mais sofridos, contudo, ele será duramente criticado pelas elites e inclusive por setores de dentro da Igreja. Padre Anizan é acusado de “modernismo social” (expressão da época que pode corresponder a nossa palavra: ”comunista”). O padre Anizan foi deposto de seu cargo de Superior Geral e proibido de exercer o seu ministério sacerdotal em Paris. Ele se oferece como capelão militar voluntário atuando no meio dos soldados em agosto de 1914 (início da 1ª guerra mundial). Dentro do coração dele surge um grande desejo: “Se tivesse padres totalmente consagrados a este povo, imitando Jesus Bom Pastor”? A idéia torna-se projeto e quando o Papa Bento XV assume a responsabilidade da Igreja Católica, padre Anizan resolve ir à Roma expor o seu sonho. Não somente o Papa aprova, mas incentiva-o e escolhe o nome da futura Congregação: “Filhos da Caridade” –“Filhos do Deus-Amor”. E assim nasce a Congregação “Filhos da Caridade” no dia de Natal de 1.918, logo após o término da guerra. Surge na Igreja uma nova família religiosa consagrada à evangelização do mundo do trabalho. FONTE: LIVRETO COMEMORATIVO DOS 50 ANOS DOS FILHOS DA CARIDADE NO BRASIL CONTINUA.

FIHOS DA CARIDADE 50 ANOS - PARTE 2


INTRODUÇÃO

            Os primeiros Filhos da Caridade fazem o noviciado e começam o seu apostolado na região de Paris. Aos poucos aparecem jovens interessados em viver este carisma e, com o passar dos anos, os Filhos da Caridade passam a assumir outras paróquias em Paris e no interior. O mundo operário começa a se organizar: sindicatos, Juventude Operária Cristã,e outros movimentos.

            Em 1.936, na França, a Frente Popular consegue várias vantagens: o salário mínimo, 15 dias de férias pagas por ano, mas a exploração ainda continua forte. Presentes nas lutas operárias, mas ainda mais preocupados em evangelizar, os Filhos da Caridade já passam o número de 100. A segunda guerra Mundial traz grandes dificuldades, mas também novas esperanças porque os padres, ao voltarem da guerra, percebem que a evangelização não pode continuar com o sistema antigo: os padres devem viver mais perto do povo. Assim nascem os padres-operários por volta de 1.947 (a guerra terminou em 1.945)

            As vocações tornam-se mais numerosas: com mais de cento e cinqüenta filhos da Caridade novas paróquias estão sendo assumidas em várias regiões da França, do norte ao sul. Os anos passam e a evangelização dos pobres e trabalhadores empolga cada vez mais um bom número de jovens.

A INTERNACIONALIZAÇÃO.

            O mundo estava mudando e ficava cada vez mais claro que a classe operária crescia em todas as grandes cidades do mundo. Alguns se perguntam: ”Por que não atender os apelos da classe operária fora da França?” Com esta indagação, as bases da internacionalização de nossa congregação religiosa surgem. Os responsáveis de nosso Governo Geral estudam as possibilidades: na América do Norte, em terras canadenses já existem Filhos da Caridade. Então, por que não enviar religiosos em terras africanas e no contexto sul-americano? Estas argumentações ganharam força e em 1.961, decide-se o envio dos primeiros religiosos ao Brasil: “Era hora de atravessarmos o oceano”, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente.

            Era o Gênese (origem) da grande aventura da “internacionalização” do Instituto. Atualmente estamos no Brasil, Colômbia, México, Cuba, Canadá, Costa de Marfim, República Popular do Congo, República Democrática do Congo, Filipinas, Espanha, Portugal e França.

            Estamos presentes em doze países, cada qual com suas particularidades e nestas páginas desejamos partilhar a realidade brasileira, “O Florão da América” que nos acolhe há 50 anos.  São muitas histórias, riquíssimas experiências e tudo isto aconteceu, porque dissemos sim à “Evangelização dos Pobres e Trabalhadores”.

            1.961-2011: 50 anos da presença dos Filhos da Caridade no Brasil: meio século, com muitas histórias: é um pouco uma “História Santa” embora teve sempre altos e baixos pois tudo o que é humano tem falhas.

TERRA DE SANTA CRUZ ESCOLHIDO POR DEUS - PARTE 3


POR QUE O BRASIL FOI ESCOLHIDO?

            Em 1.961, um dos responsáveis da Congregação: o padre Joseph Bouchaudresolveu vir ao Brasil para estudar as possibilidades da implantação de nossa congregação religiosa. Ele chegou à Manaus no dia 29 de junho na festa de São Pedro e prosseguiu viagem: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador e, em cada lugar os padres  respondiam a Joseph Bouchaud: “A sua missão só pode ser em São Paulo: é a região de grande crescimento industrial”.

             Após conhecer o Rio de Janeiro, Joseph Bouchaud chega a São Paulo e marca uma entrevista em Santo André com Dom Jorge Marcos de Oliveira (primeiro bispo diocesano de Santo André). O Superior dos Filhos da Caridade explicou o motivo da visita e Dom Jorge exclamou: ”É Deus que te envia: minha diocese cresce muito, tem cada vez mais fábricas, mais famílias que vem de todo lugar: Nordeste, Bahia, Minas e não tenho padres para atender o povo nosso que é muito religioso: venham na minha diocese que os acolherei de braços abertos: precisávamos de padres com este carisma: servir os trabalhadores”.

            Ao final de julho, o padre José Bouchaud volta à França e pede a um padre que acabava de mudar de paróquia para que ele viesse ao Brasil para estudar as possibilidades e foi assim que o padre João Le Berre veio morar em Santo André, ajudando Monsenhor Cavalcante na paróquia de São Judas Tadeu. Em conversa com Dom Jorge, foi decidido que os primeiros padres que chegassem, atuariam  na paróquia de Santa Terezinha no bairro de Utinga, porque o padre que atendia nesta paróquia iria voltar à Itália.

E foi assim que a Congregação mandou os dois primeiros padres: Pedro Jourdanne e José Mahon, que desembarcaram em São Paulo no dia 1º de dezembro de 1.961.

            Os religiosos foram acolhidos por um frei dominicano “João Batista” que tinha montado uma fábrica comunitária de móveis no bairro de Ipiranga, situada à Rua Vergueiro. Com a chegada dos religiosos franceses surge a primeira necessidade: aprender a falar português, tarefa nada fácil, mas uma religiosa idosa do colégio de Sião em São Paulo (irmã Nímia) se prontificou em ensinar a língua portuguesa aos 2 padres que chegavam.

OS PADRES NO MEIO DOS TRABALHADORES - PARTE 4


PADRES-OPERÁRIOS

             Era década de 60 e estávamos em três padres. Fato marcante em nossa Igreja Católica deve-se à capacidade de pensar e ser criativos na evangelização, e com este dom os três religiosos tentaram realizar um sonho: um dos três sacerdotes iria trabalhar na fábrica, e conhecendo a realidade da massa trabalhadora, partilharia entre os Filhos da Caridade no Brasil, a vida e o suor dos que lutam para sustentar a família. Guiado por este desejo e convicção, o padre José Mahon foi contratado em 1.964 (época da revolução de 31 de março) pelas “Indústrias Villares” em São Bernardo do Campo. Depois foi a vez de Pedro Jordanne trabalhar na “Nordon”(fábrica metalúrgica em Utinga – Santo André) em 1.965 e 1966,  e Roberto Du Lattay em 1.967 era admitido na empresa “Irmãos Vassoler”  na Avenida Industrial em Santo André, contudo, percebemos que era quase impossível atender bem os paroquianos, formar militantes  e trabalhar em fábrica.

            Em nossa equipe de religiosos chegaram os Filhos de Caridade, Bernardo Hervy e Carlos Tosar, este ordenado sacerdote em julho de 1.969 e trabalhador na“ZF” (São Caetano) e “Firestone” (Santo André) por vários anos. Bernard Hervy, também padre-operário, trabalhou como torneiro mecânico, na “Vidrobras”, na“União dos refinadores”, e depois, em Santo André, passando por diversas fábricas, e ligado mais intensamente a um trabalho sindical, na época em que a classe operária do ABC sofria com a ditadura militar.

            Na década de 70, chega o padre Ivo Rannou, Filho da Caridade, trabalhador da construção civil no ABC, como pedreiro, e durante vários anos acompanhou a JOC do ABC, como assistente. Outro FC que veio viver conosco era um padre que esperava o visto para entrar em Cuba, mas, sem resposta, passou alguns anos conosco. Seu nome era João Pedro Borderon e trabalhou como eletricista na Philips, até receber o visto esperado.

PADRE ALFREDINHO SINAL DA CARIDADE DE DEUS - PARTE 5


O PADRE ALFREDINHO         


                Em 1.968 chegou  do Canadá o padre  Alfredinho, religioso Filho da Caridade e trazia em sua bagagem a vontade de viver no meio dos mais pobres. Ele pensava em residir na favela dos alagados em Salvador (Bahia), mas o arcebispo não concordou, e mudando de ares, ele foi aprender a língua portuguesa em Crateús onde dom Fragoso, bispo diocesano, o acolheu. Passado alguns meses,  a amizade com Dom Fragoso se intensificou, a ponto do padre Alfredinho resolver ficar em Crateús.

            Fredy Kunz (padre Alfredinho) realizou um trabalho apostólico muito profundo nos bairros mais pobres, no meio da prostituição, nas frentes de trabalho, e enfrentou as críticas dos militares naquela época de repressão. O religioso conseguiu que o povo de Crateús fosse acolher com carinho os grupos de camponeses que, deixando as suas terras por causa da seca, vinham à cidade com a intenção de saquear os supermercados: estas pessoas necessitadas foram acolhidas nas casas do povoado como verdadeiros irmãos. As famílias abriam as suas portas aos famintos e surgia o PAF (Porta Aberta aos Famintos). Padre Alfredinho criou na Barra do Vento um centro de retiros, foi chamado para animar retiros de sacerdotes e religiosas, tinha um jeito de viver tão simples e evangélico que se tornou uma figura muito conhecida no Brasil. Fundou a Irmandade do Servo Sofredor (ISSO) que se espalhou em muitos estados do Brasil e muitos países do mundo. Em 1.989 veio para Santo André, viveu no meio dos pobres embaixo de viadutos e na favela Lamartine, situada na região da paróquia São Geraldo.  Nesta favela, ele animou a comunidade Nossa Senhora Aparecida, no coração da favela. Como todo ser humano, a idade comprometia a sua saúde, mesmo alimentando-se bem (arroz, feijão, sopa, legumes, chá, café, suco natural). A sua saúde estava muito precária e, após uma longa doença, faleceu em Santo André no dia 11 de agosto de 2.000. Padre Alfredinho escreveu vários livros, entre eles o mais conhecido: “A burrinha de Balaão” e a vida dele foi biografada por Michel Bavarel, e dentre muitos testemunhos de vida não podemos esquecer a sua resistência contra grupos capitalistas que se enriquecem, vendendo produtos nocivos à saúde de nossa população (por exemplo, padre Alfredinho não tomava qualquer refrigerante fabricado pela multinacional Coca Cola).

            Padre Alfredinho e todos que estiveram e atuam na Irmandade do Servo sofredor escreveram e escrevem uma bonita história, marcada pela espiritualidade do Servo Sofredor (Is. 42ss), o grupo dos sete, os encontros e retiros, e como diz a dona Ricarda “Eu quero ser o que sou, nada mais daquilo que sou”.  Nós continuamos seguindo com nosso carisma, mas que fique registrado: “Os exemplos de santidade acontecem em nossas periferias”.

FONTE: http://savfilhosdacaridade.blogspot.com.br

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