domingo, 11 de janeiro de 2015



Sobre julgamentos...
Hoje no consultório aconteceu um fato muito interessante e quero dividir com vocês. ..
Recebi uma senhora com sua jovem filha que veio acompanhar a mãe na consulta. Era nosso primeiro contato e ao abrir a porta a "jovem" disse "a médica é você? " Sim! Sou eu! Rsss.. 
Sentamos e ela começou a dizer o quanto a mãe era depressiva, o quanto não suportava nada, reclamava de tudo... e falava, falava, falava... Enquanto a mãe ouvia calada e eu também. Até que ela me olhou e disse "bom não sei se você vai entender porque parece tão moderna... " 
Então perguntei de quem era a consulta. Pra minha mãe é claro! Ahhh, não parece! Você não a deixou abrir a boca até agora!!! 
Acho que ela percebeu, pois se calou e deu espaço para a paciente falar...
E entao eu disse " querida estou aqui pra te ajudar no que for possível . Quero saber de você como está se sentindo! E como numa torneira que lentamente vamos abrindo, essa senhora transbordou toda sua dor num choro longo e doloroso... falou da perda do marido e do irmão que tanto amava... no quão difícil era lidar com tudo aquilo com todos dizendo que ela tinha que ser forte e não podia chorar... que ela estava depressiva e precisa se tratar pois não era normal uma pessoa viver sofrendo... e chorou mais... 
A "jovem" em choque, tentou mais de uma vez interromper mas não deixei. 
Depois de quase meia hora, ela me olhou e disse " você é a primeira pessoa que entende a minha dor, acho que até já melhorei"...rsss
Que bom!!! Seguimos a consulta com ela mais falante e confiante, ciente da validade da sua dor e de ser ouvida sem julgamentos 
Quanto a "jovem", não gostou do que viu, do que ouviu, nem do tratamento proposto. 
Apesar de ser mais jovem cronológicamente que eu, me julgou jovem demais e moderna demais - lê - se ( tatuada demais), rsss... Assim como julga a mãe incapaz demais... 
Quando saíram fiquei pensando em quantos julgamentos fazemos o tempo todo... quanto tempo perdemos com idéias erroneas por pré - conceitos de cor, raça, credo, idéias, roupas, estilos... 
Tenho muitas tatuagens... a quem goste... a quem deteste... Mas isso não me define como profissional. ... Minha competência é inquestionável 
Hoje busco não julgar... ouço todas as histórias com carinho... cada um tem o seu lado... a sua verdade... 
E quem somos nós pra dizer quem está com a razão? 
Por Dra Roberta França 
Geriatra


Ps: hj posto minha última tatuagem que orgulhosamente fiz agora em homenagem ao grande ano de crescimento interior que tive em 2014. A frase indígena Aho Mitakuye Oyasin é para mim uma oração. "Que assim seja pois eu te aceito, te respeito e te reconheço como parte de mim "
Por um mundo mais generoso!!!
Um beijo a todos vocês

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