sábado, 17 de janeiro de 2015

Jesus Dos 12 Aos 30 Anos (Primeira Parte) - Frater Alexander

Pouco encontra-se nos evangelhos sobre a adolescência de Jesus Cristo. Dos 12 aos 30 anos há uma lacuna que tem chamado a atenção dos leitores da Bíblia  e dado vazão a explicações hipotéticas. Dessas explicações algumas são extremamente perigosas por conter em si elementos que afastam o homem dos caminhos da fé. 
A Bíblia (que não contém nos evangelhos uma biografia de Nosso Senhor) tem uma proposição muito simples para responder a essa questão:  Jesus, entre 12 e 30 anos, "crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens" (Lucas II, 52). 
Certamente Jesus passou sua juventude submisso à José e a Maria. Provavelmente em Nazaré. Como era de costume , do pai deve ter aprendido o oficio (carpintaria). Assim deu Jesus o testemunho que na vida cotidiana - sob as leis de Deus - também se alcança a santidade e a salvação. Sobre isso dizia São Luis Maria Grignon de Monfort: 
"... Nosso Senhor deu mais gloria a Deus se submetendo à Nossa Senhora na sua vida oculta, do que deu durante a sua vida pública."
Todavia, as mentes mais inquiridoras (ainda que menos religiosas) já se depararam com as diversas hipóteses que circulam por ai, pois é grande o numero de artigos e de livros que tendem, cada um de sua maneira, a revelar o que teria ocorrido na vida de Jesus durante esses anos.
Analisemos algumas poucas sentenças sobre o assunto:



Fonte Rosacruciana

Como Sociedades "Rosa-Cruz" podemos entender certas organizações que, ou tiveram inicio a partir do século XVII na Alemanha graças a divulgação de três manifestos - entre 1614 e 1616 - de suposta autoria do teólogo protestante Johann Valentin Andreae ou se aproveitaram da fama das que ai tiveram inicio e delas tomaram "emprestado" o titulo.
Tais sociedades professam deter conhecimentos muito antigos e portar as chaves de diversos segredos referentes ao homem e ao universo.

No livro "The Mystical life of Jesus" o auto intitulado doutor Harvey Spencer Lewis sugere no cap, X a seguinte tese:

Jesus seria um Grande Avatar Essênio ( a palavra Avatar vem do sânscrito Aval, que significa "Aquele que descende de Deus", ou simplesmente "Encarnação" e seria qualquer espírito divino que ocupe um corpo de carne, representando assim uma manifestação divina na Terra.)

Jesus teria começado seus estudos junto aos Essênios em Monte Carmelo. Aos quatorze anos de idade teria sido levado a India por dois magos, teria então ficado na cidade de Puri em um mosteiro budista; nesse mosteiro, teve contato com mestres e manuscritos budistas. Dali, teria então partido para Benares onde aprendeu o sistema terapêutico dos hindus  (o que explicaria seu imenso poder como "curandeiro") e teve contato com manuscritos do Tibé.

Teria ido depois para à Pérsia, onde se haviam feito, na cidade de Persépolis, os preparativos convenientes para que prosseguisse em seus estudos. Persépolis era a capital da antiga Pérsia e sede dos magos daquele país.

Grandes homenagens prestaram esses magos a Jesus Cristo. De várias comarcas da Pérsia acudiram outros personagens a Persépolis e ali permaneceram como instrutores durante o período da educação de Jesus Cristo.

Depois de um ano na Pérsia, Jesus Cristo e os magos dirigiram-se para a região do Eufrates, onde entrou em contato com os mais ilustres sábios da Assíria e magos de outros países que foram vê-lo e ouvi-lo.

Longo tempo permaneceu Jesus Cristo nas cidades e povoações da Caldéia e da Mesopotâmia. 

Daquele país se transportaram Jesus Cristo e os magos para as ruínas da Babilônia e ali estiveram algum tempo a examinar os templos desmoronados, as partes destruídas e os palácios desertos. 

Da Babilônia foram Jesus Cristo e os magos para a Grécia, onde se encontrou com alguns filósofos atenienses e esteve sob a direção pessoal e cuidado de Apoio, que lhe mostrou as antigas crônicas da sabedoria grega e de lá embarcou rumo a Alexandria.

Ali só ficou o tempo suficiente para conversar com os mensageiros especiais que haviam ido saudá-lo e visitar alguns dos mais antigos santuários. De lá passou para Heliópolis e residiu em uma casa particular, especialmente disposta para ele, com vários criados, um lindo jardim e um escriba, cujas funções eram análogas às do que chamamos hoje de secretário particular.

Pouco depois de sua chegada a Heliópolis, Jesus Cristo foi visitado pelos representantes do sacerdócio pagão do Egito. 

Diz o autor que foi naquela ocasião que Jesus Cristo começou a preparar-se para os graus superiores da Grande Fraternidade Branca da qual se tornou mestre. Retornando finalmente para Palestina.

Fonte Esotérica

Por "esoterismo", podemos entender um conjunto de tradições e interpretações filosóficas de doutrinas e religiões que buscam descobrir/preservar o sentido supostamente oculto do universo e da vida. O esoterismo é o termo para as doutrinas cujos princípios e conhecimentos não poderiam ou não deveriam ser "vulgarizados", ficando então restrito à número de discípulos escolhidos.

O autor esotérico William Walker Atkinson  (que assinava sob o pseudónimo de Yogi Ramacharaka) em seu livro "Cristianismo Místico" propõe a seguinte tese:

Entre os 12 e 30 anos Jesus viajou por locais como Índia, Egito e Pérsia (entre outros) , onde recebeu diversas iniciações.

Na Índia, Jesus teria atraído a fúria dos Brâmanes por impor-se contra sua casta a favor de castas menos favorecidas; considerado um agitador e um rebelde Atkinson via em Jesus uma espécie de "socialista".

Jesus porém não encontrou lá objeções que o fizessem partir e foi se desenvolvendo em sabedoria e deixando marcas que mais tarde seriam descobertas por missionários cristãos em peregrinação a Índia. 

Finalmente, voltou a Israel.

Atkinson acreditava que Jesus era como um instrutor mundial. Os "grãos de sua verdade" teriam sido plantados em diversas religiões e não seriam de forma alguma beneficiadores de uma única igreja ou grupo. O Autor de "Cristianismo Místico" acreditava ainda que no ano 2000 toda a humanidade estaria unida como uma grande família destituída de pré-conceitos de raças e de religião.

Fonte Teosófica

Uma das fundadoras da teosofia , a Sra Annie Bessant, escreveu o livro "O Cristianismo Esotérico", onde no cap IV ("O Cristo Histórico") se encontram (deduzidas de "fontes ocultas") as seguintes referências a Jesus:

Jesus teria nascido na palestina. Seus pais embora pobres eram de origem de origem ilustre e o educaram no conhecimento das escrituras hebréias; tendo porém notado que o jovem tinha grande poder de interiorização e grande aptidão para o estudo destinaram-no à vida ascética.  

Jesus teria então sido enviado para um mosteiro de essênios no deserto meridional da Judéia. O local onde ele se instalou seria muito visitado por sábios da Pérsia e da Índia que rumavam ao Egito; lá existiria uma biblioteca extremamente vasta e continha muitas obras ocultas, mutas das quais provenientes de regiões além do Himalaia.
Posteriormente Jesus teria ido ao Egito, tendo então sido iniciado nos mistérios nas doutrinas que se imbuem os fundadores de todas as religiões, pois - segundo a Sra Bessant - o Egito era o grande depositário dos verdadeiros mistérios do universo. 

Então, já aos 29 anos, ultrapassava em pureza e graça a todos os seus companheiros. Regressou pois a sua terra, Israel; e - após ser batizado por João - passou a ser tabernáculo da Divindade , o novo Avatar.

Aliás a Sra Bessant era uma fabrica de avatares... além de Jesus como avatar ela elevou também ao titulo seu filho adotivo  o jovem indiano Krisnamurti. 

Os Documentos do Mar Morto

Em 1947, a N. O. do Mar Morto , na região de Qumran foram encontrados preciosos manuscritos escondidos em grutas locais; tais manuscritos apresentavam além de textos bíblicos documentos da espiritualidade de uma comunidade de monges israelitas, que são geralmente identificados com os essênios.
Tais documentos fazem referencia a um "Mestre da Justiça", este praticou a pobreza, a penitencia , a humildade , o amor ao próximo, etc; era tido como o "Ungido" ou o "Messias"; foi alvo do ódio dos sacerdotes saduceus ; finalmente foi supliciado e depois subiu aos céus para junto de Deus.

Diante desses dados há quem considere que Jesus era o Mestre da Justiça. Seria a lenda que teria situado Jesus nos tempos de Cesar Augusto, cerca de um século e meio depois do "Mestre da Justiça".


Fontes Espíritas

Alguns espíritas crêem que Jesus aprendeu tudo o que sabia dos essênios. Em "O Sublime Peregrino"psicografada pelo médium Hercilio Maes e ditada pelo espírito Ramatís, Jesus é situado como  um Espírito angélico , informação essa contida nos "registros etéricos"  e por revelações feitas pelos próprios discípulos do Mestre em serviço no Espaço. 
Revelou Ramatís:
"Jesus esteve realmente em contato com os Essênios durante algum tempo e conheceu-lhes os costumes, as austeras virtudes, assim como teve oportunidade de apreciar-lhes as cerimonias singelas dos santuários menores, externos, e os ritos mais sugestivos do "Circuito Interno". Muitos dos seus gestos, práticas e atos do mundo profano deixavam perceber as características essenicas de elevado teor espiritual, pois eles guardavam muita semelhança com os primeiros cristãos."
"Aliás, Jesus, como entidade de elevada estirpe sideral e insaciàvel na pesquisa do espírito imortal, ou da verdadeira vida do homem, jamais deixaria de procurar os Essênios  e conhecer-lhes as idéias, pois os mesmos já ensinavam o amor a Deus, ao proximo e criam na imortalidade da alma e na reencarnação..."
" ... O Mestre não pertenceu, não se filiou propriamente a confraria dos Essênios, mas manteve com eles amistosas relações; essas relações incluíam a participação do mestre nos ritos internos que os próprios mentores Essênios achavam indispensável para uma entidade de seu quilate..."
Ramatis revelou ainda ao vidente outras coisas referentes a Jesus: segundo Ramatis Jesus é o Governador Espiritual do Planeta Terra e , enquanto vivo, era um médium que incorporava o Cristo Planetário - O que haveria de ser assim entendido:
"O Logos, o Verbo ou o Cristo do planeta terra em determinado momento passou a atuar diretamente pelo seu intermediário Jesus, anjo corporificado na figura humana, transmitindo à humanidade a luz redentora do Evangelho"
Conclusão

Em conclusão desse percurso de sentenças sobre os anos obscuros de Jesus , verifica-se que autores que propõem a estada de Nosso Senhor no oriente ou no Egito, são geralmente filiados a sociedades ocultistas, teosóficas ou espíritas. Propõem suas hipóteses em virtude de concepções filosófico religiosas e não em consequência de estudos exegético bíblicos. Em outras palavras: Não é o exame das escrituras que os faz afirmar que Jesus tenha feito viagens de aprendizagem em direção ao Oriente e também não há fontes históricas que levem alguém a crer nisso.

Na semana que vem , veremos que a exegese bíblica derruba essas hipóteses fantasistas   e dissuade as concepções heterogêneas e preconcebidas que inspiram essas sentenças. 

Jesus Dos 12 Aos 30 Anos (Segunda Parte)

Na semana passada apresentamos algumas hipóteses sobre a vida de Jesus Cristo entre 12 e 30 anos. Nos comprometemos ainda à apresentar na exegese a autentica solução para o problema. 

Pois bem, procederemos por três etapas:

 Primeira Etapa: A Estrutura dos Evangelhos

 As sentenças que afirmam que Jesus viajou para fora da Palestina supõem que Evangelhos sejam biografias de Nosso Senhor.  A biografia é um gênero literário em que o autor narra a história da vida de uma pessoa ou de várias pessoas. De um modo geral as biografias contam a vida de alguém depois de sua morte. Uma biografia requer que sejam narradas as origens do personagem (nascimento, infância ...) , que suas principais façanhas sejam descritas e, finalmente, se chegue então a narrativa de seu ocaso terrestre.

O esquema abaixo ilustra como se dá uma biografia:
  1. Narrativas do Nascimento;
  2. Narrativas Sobre a Infância;
  3. Narrativas Sobre a Adolescência;
  4. Narrativas Sobre Maturidade;
  5. Narrativas Sobre o Declínio.
Os que pretendem encontrar nos Evangelhos esse tipo de gênero literário admiram-se por haver ali a omissão dos itens 2 e 3. Então, concluem que os biógrafos  nada publicaram porque nada havia de documentado e que nada havia de documentado porque Jesus estaria fora da Palestina (há ainda os que julgam que as omissões são propositais e que pretendem esconder do mundo o fato de que Jesus estaria ligado ao chamado "esoterismo") . Diante desse pensamento , procuram pela fantasia, reconstruir o itinerário e as características das viagens de Jesus.

A suposição de que os Evangelhos pertencem ao gênero literário das biografias é completamente errônea.  Nunca foi do desejo dos evangelistas relatar a vida de Cristo como uma biografia. A função deles foi fazer eco a tradição oral que os apóstolos transmitiram sobre Jesus de Nazaré. As pregação oral anunciava primeiro a Páscoa do Cristo - Sua paixão, morte e ressurreição e seu valor salvífico para o homem; esse era o ponto culminante da pregação oral e mais tarde dos evangelhos: o Plano da Salvação. Na sequência, a pregação oral cuidava de transmitir aos homens o cerne da doutrina transmitida por Nosso Senhor durante os três anos de seu ministério junto aos homens (a cronologia e a topologia do anuncio dessa doutrina, não raro, esta submetida ao intuito catequético dos evangelistas); São Marcos por exemplo situa esse ministério público entre o batismo de Jesus no Rio Jordão ao momento de sua ascensão aos céus (São Pedro refere-se ao mesmo esquema em At 1,22). Qualquer coisa que tenha ocorrido antes desse período não interessava ao plano catequético e pastoral dos Apóstolos por não fazer parte do Plano Salvífico traçado para a humanidade e , logo, não era relevante. Se porém, encontramos em Mt e Lc algo da infância de Jesus, é preciso lembrar que tais textos são adicionados ao esquema de catequese; acham-se em apêndice, embora iniciem os escritos de Mt e Lc; cada um deles houve por bem escolher da tradição anterior esses poucos episódios referentes a Maria, a S. José, Zacarias, Izabel , João Batista e Jesus. Sem necessariamente se julgar obrigado a narrar tudo o que ocorreu antes dos trinta anos de existência de Jesus.  Deve-se perceber que tudo o que há de narrado sobre a infância de Jesus envolve fatos extraordinários e que de forma muito coesa se ligam ao que há de profético e maravilhoso (anunciação, fuga para o Egito, a ligação familiar com João Batista, etc) quanto ao que demais houve na vida de Nosso Senhor antes dos trinta anos isso não era relevante a ponto de ser narrado , mas não podemos dizer que os apóstolos ignoravam tais acontecimentos (vide Mt 13, 53-56; Mc 6,2s que abordaremos mais adiante). Por fim , podemos dizer que se os evangelistas nada tivessem dito sobre a infância de Jesus nos Evangelhos, ainda assim a finalidade dos mesmos estaria preservada.

Em resumo, assim representamos as nossas observações:

Gênero literário "BIOGRAFIA"

  1. Narrativas Sobre Nascimento;
  2. Narrativas Sobre a Infância;
  3. Narrativas Sobre a Adolescência;
  4. Narrativas Sobre Maturidade;
  5. Narrativas Sobre o Declínio.
Gênero literário "EVANGELHO"

  1. Páscoa (Morte e ressurreição);
  2. Vida Pública (Síntese da mensagem);
  3. Infância (Traços esparsos narrados em Mt e Lc de forma "gratuita).
Logo, podemos concluir que a surpresa de alguém perante o fato dos Evangelhos não narrarem a vida de Jesus entre 12 e 30 anos é algo totalmente sem propósito. Procurar explicar tal período da vida de Jesus com viagens para qualquer local que seja indica total falta de conhecimento por parte do "pesquisador"; é questão mal colocada , baseada em pressupostos e concepções errôneas.

Uma vez observada a inconsistência do problema, cabe à nós agora examinarmos o texto do Evangelho e procurar ai os indícios sobre como viveu Jesus durante esse período. 

Jesus Dos 12 Aos 30 Anos (Terceira Parte)

Continuando nossa serie de posts sobre a vida de Nosso Senhor entre 12 e 30 anos nos aproximamos um pouco mais dos textos do evangelho e também da arqueologia.

Segunda Etapa: Evangelhos e Dados Arqueólogicos

Embora os evangelhos sejam bem silentes no que diz respeito a adolescência de Nosso Senhor, ainda assim ele define (embora de forma curta) o que se deu nesse período. Jesus exerceu uma profissão comum na Palestina antes de iniciar Seu ministério: Ele era carpinteiro, conhecido como tal e vinculado à uma família conhecida.


Analisemos por exemplo a passagem abaixo retirada de Mc 6, 2-3:
 E, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: De onde lhe vêm estas coisas? e que sabedoria é esta que lhe foi dada? e como se fazem tais maravilhas por suas mãos?
Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele.
A mesma situação é retratada em Mt 13, 53-66:
E aconteceu que Jesus, concluindo estas parábolas, se retirou dali.
E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam, e diziam: De onde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas?
Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?
E não estão entre nós todas as suas irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto?
Esses dizeres são suficientes para mostrar que os conterrâneos de Jesus conheciam sua identidade, a família a qual pertencia e  a profissão a qual se dedicava.
Até mesmo por sarem sabedores que era homem de origem humilde espantaram-se com sua sabedoria.

Olhando um pouco os costumes da época podemos deduzir que José que teria ensinado a Jesus a profissão de carpinteiro. Diziam os rabinos:

Quem não ensina um oficio a seu filho, ensina-lhe a roubar.
Mencionamos também o fato de que entre os israelitas mesmo os que se consagravam aos estudos da Lei  eram obrigados a ter uma profissão. Rabi Hillel , por exemplo, era lenhador, Rabi Shamai era carpinteiro... Jesus não somente aprendeu a arte da carpintaria , mas a exerceu (como citado acima, Mc 6,2-3).

Em aramaico , a palavra naggar e em grego o vocábulo tekton , significava marceneiro e mestre de obras.

Giovanni Papini observou sabiamente:

O lavrador, o ferreiro, o pedreiro e o carpinteiro são os operários cujas artes manuais são as mais ligadas à vida humana, as mais inocentes e as mais religiosas.
 Visto que habitava a pequena Nazaré na Galileia não seria de se estranhar se tivesse lavrado a terra, uma tradição antiga também sugere (não vou cita-la por não ser totalmente confiável) que poderia ter apascentado ovelhas enquanto era criança. Essa configuração (cidade pequena, trabalho no campo, contato com criação de animais) explicaria sua tendência ao recolhimento (pastores trabalham sós).
De modo geral, podemos deduzir que:

  1. Jesus teria tido infância pobre (carpintaria não era algo rentável);
  2. Teria habitado casa muito modesta (visitando a parte antiga da cidade de Nazaré observa-se que era esse tipo de casa que predominava);
  3. Sua alimentação - como a dos concidadãos de sua época - teria sido algo a base de pão de cevada, leite coalhado, ovos, hortaliças, pouca carne e, nos dias de festa, peixe-grelhado.
  4. Seu meio social era composto por vinhateiros, lavradores, artistas, pescadores ... enfim, gente modesta e pobre que ajudou a compor sua formação humana;
  5. Os galileus eram gente bondosa e de coração simples embora um tanto quanto rudes; 
  6. A linguagem simples dos antigos galileus bem como sua forma figurativa de expressar-se por meio de pequenas histórias teve forte influência na forma que Jesus usava para se expressar.
Terceira Etapa: Conclusão

Como vimos no primeiro post sobre o assunto, as hipóteses de que Jesus teria estudado em escolas de sabedoria no Tibé, Egito, India, Monte Carmelo, Qumran (esse merecerá um post a parte) ... são geralmente de fontes ocultistas, teosóficas ou espíritas; falam muito mais na base de preconceitos ou premissas de seu esoterismo do que em consequência de estudos exegéticos documentados.
Explicar a origem de tais hipóteses só se pode diante da fantasia e não de qualquer raciocínio cientifico. 
Tais teorias só puderam surgir graças ao silêncio dos evangelhos sobre o período de vida de Jesus entre 12 e 30 anos. Ora, levando-se em conta que  o gênero literário a qual os Evangelhos pertencem não é o biografico, que os próprios evangelhos elucidam o fato que os conterrâneos de Jesus o conheciam ... Bem, a ciência exegética e  as pesquisas históricas demonstram que o problema relativo a esse período da vida de Nosso Senhor, simplesmente inexiste. Ou é mal colocado ou não tem razão para ser colocado.
A única coisa que poderia justificar tal questionamento por parte desses grupos é a imperícia biblica.

Por fim - e de não menor importância -  a mesma capacidade de fantasiar respostas sobre algo que se desconhece origina não apenas essas hipóteses "esotéricas" sobre a adolescência de Jesus. Alguns "Evangelhos Apócrifos" , que até possuem certa autoridade, também se revestem de caráter romancista e narram façanhas portentosas de Nosso Senhor enquanto ainda exercia a profissão de carpinteiro. Mas mesmo esses escritos situam a existência entre 12 e 30 anos em Nazaré.

http://frateralexander.blogspot.com.br/2011_02_01_archive.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário