domingo, 11 de janeiro de 2015

Satsang, 09.10.14 - Alto Paraíso 2014

Temas: A manipulação da energia sexual para ter poder sobre o outro/ O Tantra como um florescimento que nasce do amadurecimento do casal/ Os poderes espirituais como obstáculos no caminho do buscador/ A autoimposição do celibato.


Prem Baba: Parece que ao entrar na esfera de relacionamento e sexualidade é como abrir a caixa da Pandora. Hoje tem uma chuva de perguntas sobre o assunto. Então, me parece que esse é mesmo um tema urgente para muitos. Temos que partir de algum lugar. Então, vou começar por aqui mesmo e ver o que é possível.

Pergunta: Amado Baba, seria possível o senhor falar um pouco sobre energia sexual e não ejaculação durante o ato sexual?

Prem Baba: Esse é um tema comum no universo dos buscadores espirituais. Tenho visto muitos buscadores comprometidos em aprender técnicas de retenção do orgasmo, retenção da ejaculação, técnicas para fazer a energia subir pela coluna para abrir os chakras, ganhar poderes. Mas aqui cabe uma reflexão: Quem em você é que está querendo controlar a energia? E para quê? É fato que ao trabalhar com a energia dessa maneira, você vai adquirir poderes, mas esses poderes estarão a serviço de quem? Especialmente quando você ainda está na fase da cura da sua repressão e precisa se valer do remédio da variedade.

Compreenda que ao praticar essas técnicas com várias pessoas diferentes, você acaba criando situações muito perigosas para você e para o outro. Para você, primeiramente, porque amplia tremendamente seu magnetismo e acorda aí o poder de dominar o outro. O ego vai se tornando robusto e astuto. Talvez o principal poder que você desenvolve é o da manipulação; você manipula para ter poder sobre o outro para fugir de si mesmo. Para que é que você quer ter poder? Para fugir da angústia? Você quer acreditar que tem domínio sobre o outro para não se sentir carente? Ter domínio sobre uma pessoa não é diferente de você ter um carro novo, de você ter uma casa nova, de você ter dinheiro na sua conta bancária. Tudo que você tem agrega valor à ideia que você tem de ‘eu’. No mais profundo você está em busca de uma identidade, está tentando preencher uma carência. Enquanto tenta preencher uma carência ganhando dinheiro, comendo ou comprando coisa, você prejudica prioritariamente a você mesmo. Machuca o outro também, mas indiretamente. Não é possível fazer mal a si mesmo sem fazer mal para o outro, assim como é impossível fazer mal para o outro sem fazer para si mesmo. Mas enquanto você está tentando fugir da carência através de conquistas materiais, é você quem acaba se machucando mais.

Mas quando você tenta suprir sua carência dominando o outro, aí as coisas se complicam. Porque para isso acontecer, para você ter domínio sobre o outro, você tem que fazer o outro se sentir inferior, tem que fazer o outro se sentir impotente para você se sentir potente, tem que responsabilizar o outro pela sua responsabilidade. E aí machuca de verdade. Ao mesmo tempo, é uma verdade cósmica que, em algum momento, a energia deve ser direcionada para dentro e para cima. Esse estágio poderíamos até chamar de um supra sexo, mas esse supra sexo é um florescimento. Você precisa primeiro passar pelo sexo normal - onde você tem a chance de purificar a sua personalidade, tem a chance de purificar seu coração -, para que, então, haja espaço para o Eu Maior conduzir essa prática.

Esse aspecto do tantrismo precisa nascer da pureza do coração. À medida que o casal vai amadurecendo enquanto ser humano, como indivíduos que estão vivendo essa experiência de se relacionar - e amadurecer significa transformar o medo, o ódio, significa acordar o respeito pelo outro, significa acordar a gentileza, significa acordar a honestidade -, vagarosamente, começa a vir mesmo uma intimidade mais profunda e mais autêntica. E essa pureza no coração funciona como um ímã que puxa a energia sexual para cima e naturalmente a energia sexual começa a se mover em direção ao coração. Naturalmente, esse movimento mecânico em que a energia se move para baixo e para fora é interrompido, porque tem uma força magnética puxando a energia para cima. Essa força magnética é a pureza do seu coração. Nesse estágio a energia sexual começa a se juntar com o amor, e aí começa a nascer o tantra superior, esse supra sexo. E aí podem surgir rituais, mas sempre espontâneos, que se renovam a cada dia, porque você não se prende a mente condicionada que deve fazer assim e assado.

Todos esses condicionamentos nascem do controle, são formas de se proteger e de dominar. Ao mesmo tempo, eu não posso também eliminar a possibilidade de, vez ou outra, alguém usar uma coisa assim como um remédio. Fique atento para não engessar minhas palavras. Como, por exemplo, ontem eu falava a respeito que a cura da repressão sexual implica na variedade. Mas aí uma pessoa que é bem reprimida, que agora está começando a se envolver com alguém: “Ah o Prem Baba falou que eu tenho que ser livre, que não tenho que me prender a alguém, que eu tenho que variar”. Eu não disse isso, o que eu estou dizendo o tempo todo, repetindo e repetindo é que você precisa ter bom senso, você precisa saber o que é melhor para você.

Então, às vezes, você até contraria uma lei, porque aquilo é o mais importante para você naquele momento. Nesse caso, contrariar a lei significa você se aprofundar nessa relação mesmo sabendo que ainda tem muita lenha para queimar. Porque se você cai no truque da mente de largar essa relação para viver a variedade, você vai viver nada, porque eu te conheço, sei que você vai ter medo de se envolver. Da mesma maneira, às vezes tudo bem você usar um ritual, usar uma técnica de respiração para ajudar a prolongar sua experiência sexual com o parceiro, mas para facilitar a sua aproximação do outro. Mas não se esqueça que o foco está em criar intimidade, o foco está em purificar o coração, e então deixar que naturalmente o tantra possa florescer desse encontro de centro com centro.

Aí, nesse estágio você pode usar uma técnica de respiração, usar os bandhas, usar mantra, usar conhecimento do tantra mágico para sua energia subir; se você quiser você pode. Mas isso deve estar a serviço do amor, você não pode cair na tentação de querer usar isso para fortalecer o seu ego. Um dos maiores obstáculos do buscador espirituais são os siddhis, são os poderes espirituais. Isso só alimenta sua vaidade espiritual, isso só alimenta o falso ‘eu’.

Maior milagre é você estar em harmonia com a natureza. Trabalhe para você desenvolver o siddhi de dormir quando você tem sono, acordar quando você tem que acordar, de comer quando você tem fome e não para saciar um buraco emocional. E aí, se você se harmoniza com a natureza nesse grau, se você pode ser espontâneo nesse grau, aí você vai conhecer o verdadeiro poder.

Outra questão:

Pergunta: O interesse no ato sexual diminui conforme, com os anos, vamos nos conectando mais com o divino?

Prem Baba: Sim. E mesmo se você não se conectar muito com o divino. Com a idade, os hormônios vão se modificando, tem uma tendência natural a diminuir o interesse pelo ato sexual. Mas claro que, quanto mais você direciona a sua energia sexual para Deus, o interesse pela matéria vai caindo, e se você pode curar suas repressões, então quanto mais você direciona a sua energia para Deus, mais rápido você sobe. Porque não tem uma âncora te segurando na Terra; a âncora que te segura na Terra são os desejos reprimidos. Tudo aquilo que é reprimido é desejado, mas se você pode amadurecer nisso, já brincou o suficiente com a bicicleta, se desinteressa dela. Você até vê as outras crianças brincando, mas você nem pensa a respeito, é natural, é da vida humana. É assim, criança gosta de brincar de bicicleta, mas você já brincou o suficiente, não tem mais necessidade, sua mente não está nisso, sua mente está em Deus.

Mais uma questão.

Pergunta: Amado Maharaji, muito grato pelo discurso sobre relacionamento e sexualidade, foi muito esclarecedor, mas surge uma questão: E sobre aqueles que escolheram o celibato, o que você poderia dizer sobre isso?

Prem Baba: Existem muitos caminhos, a questão que se repete: quem é que está escolhendo trilhar esse caminho. É verdade que algumas almas vêm com o propósito de fazer um voto vitalício de celibato. A alma precisa passar por aquela experiência, ele tem que lidar com as tentações de uma forma diferente daquele que não tem esse voto.

A tentação é o convite natural para unir o masculino com o feminino. Mas aquela alma que veio com o propósito, com o contrato assinado de nessa encarnação ter o voto de celibato, ele precisa lidar com os recursos que ele tem disponibilizado pela tradição que inspirou ele a fazer o celibato. Alguns se propõem a fazer um período de celibato a titulo de experiência e aí você precisa estar consciente de quem é que te levou a viver essa experiência.

Me faz lembrar uma história que li certa vez, de um meditador que entendeu que era hora dele se recolher num voto de celibato. Assim como era tempo também dele se recolher do mundo, ele queria se isolar numa caverna num alto de uma montanha. Ele sentia que estava na hora de se distanciar do mundo, que o mundo estava só estimulando os desejos dele; estava na hora de sair do mundo. E aí ele fez um plano, encontrou um lugar num vilarejo bem distante, na montanha bem alta, numa caverna. Não tinha acesso para o ser humano, quase impossível chegar lá, bem difícil, bem íngreme, bem inacessível. Então ele chegou ao vilarejo, fez as compras, teve que alugar um burrinho para levar as coisas. Ia passar uma temporada lá na montanha. Chegando lá ele se entregou para meditação e para suas austeridades. Foi passando o tempo, ele começou a se sentir um pouco incomodado e aí começou a olhar para o burrinho; descobriu que não era burrinho, que era burrinha (risos), começou a olhar para as pernas da burrinha, aí ele pensou: “Está na hora de descer para a cidade”.

Essa é uma questão delicada, quem é em você que está se propondo a fazer voto de celibato? É importante que o celibato nasça da sua consciência, que nasça da sua compreensão, o autênticobrahmacharya - que significa o direcionamento da energia sexual para Deus -, também é um florescimento. E isso acontece na medida em que você purifica seu coração.

Por isso eu estou insistindo que você se dedique para o seu japa, para sua meditação, para a sua oração, para o seu processo de auto investigação, para o seu estudo das sagradas escrituras, cuja principal escritura é o próprio livro da vida, o seu coração. E naturalmente, aquilo que você precisa vai chegando para você. É possível que em um determinado momento o seu guru, o seu mestre espiritual, te dê um comando, porque ele percebe que você está preso em um ciclo vicioso, percebe que a sua mente se apropria da ideia da variedade: “ah, tem que ser um florescimento então vamos continuar”. E aí ele pode dizer: “Agora chega! Agora trate de se entregar completamente para a vida espiritual”. E às vezes a alma está esperando, está clamando para esse comando, às vezes ela não consegue chegar nessa decisão por ela mesma.

Existe um ditado popular na Índia que diz que quando o discípulo está pronto, o mestre aparece. Quando você está suficientemente maduro, o comando espiritual chega para você. O que eu sei que você pode fazer nesse momento é romper, definitivamente, renunciar com a acusação, com o julgamento, com a comparação; é romper com esse ciclo vicioso que te leva para fora com a intenção de dominar o outro, voltar a atenção para si. Dirija a sua atenção para Deus, converse com Deus, dialogue com Deus, se aproxime de Deus; Deus é seu coração, converse com ele. Tratando de pouco a pouco abrir mão de todos esses jogos destrutivos, vagarosamente, você vai ser visitado pela sagrada compreensão. Clareza vai chegar, discernimento vai chegar.

Em todas essas perguntas, o que eu vejo é você ainda tentando controlar a vida, vejo você morrendo de medo de se entregar para o fluxo. Essas coisas você não domina; quando tenta dominar, só arranja problema para você. O que você pode fazer é tratar de abrir seu coração; esse deve ser o seu foco. Controle é o ‘eu’ do medo. Se tem medo, tem obstinação, tem orgulho, ou seja, tem ódio; eles não andam separados, sempre estão juntos. Então, é uma forma de sustentar o seu falso ‘eu’.

Quando eu canto Prabhu aap jago /Parmatma jago /Mere sarve jago /Sarvatra jago, é para que possa acordar em você a inspiração de também cantar esse mantra. Para que possa, cada vez mais, se comprometer em acordar a divindade em você. Mas você não acordar a divindade através do controle, através desses jogos de domínio. A palavra chave é aceitação e entrega, e assim você vai subindo. Mas para isso você tem que achar a tal da confiança. E é incrível como Deus desenhou o jogo nesse plano. Porque você aprende a se entregar para Deus e confiar em Deus confiando em um ser humano assim como você. Você tem que aprender a ver Deus no outro. Tem que aprender a olhar para o outro e ver que, independentemente de todas as mazelas e misérias, tem um princípio divino ali em que você pode confiar. É para esse Ser que você reza, é para esse ser que você falanamaste.

Eu ensino o caminho do coração, o caminho da espontaneidade, o caminho da aceitação. Eu compreendo que esse é o caminho natural. Todo meu esforço é para que você se harmonize com a vida, se harmonize com a natureza, com a natureza que pulsa no seu coração. Aí você ouve a vida falar dentro de você. A vida te guia através da intuição, através das sincronicidades, através dos sonhos, através dos sinais. Mas é verdade que você precisa passar pelas alegrias e misérias do amor humano, para viver a plenitude do amor divino.

Não queira pular etapas. Quem quer pular etapas é o ego que está arrumando um jeitinho de escapar de alguma coisa. A pergunta que nunca deve te abandonar é: “O que Deus quer de mim?” Não importa em que estágio você esteja na sua jornada evolutiva nessa terra, se você está encarnado aqui, de tempos em tempos você deve se perguntar: “O que Deus quer de mim?” E se renda para esse comando. Peça força para poder cumprir aquilo que o comando divino determina, porque às vezes ele pede coisas difíceis, que você rompa com seus apegos, com seu controle, e apego e controle são mecanismos de defesa, você se sente seguro e protegido. Você aprendeu a apreciar um cinzento, porque se sente seguro ali dentro; aprendeu a viver dentro de uma gaiola. Às vezes é difícil abrir mão do controle, do apego; significa abrir mão de tudo que você acredita ser importante para você. Mas às vezes chega esse comando: “Larga esse apego, larga esse controle, vamos nos entregar para o fluxo!”.

Em síntese, você precisa se entregar para o amor. Se o amor é a seiva da vida, é o amor que está te conduzindo, é ele que está te dando o comando. É ele que está quebrando seus apegos, seus controles, para que você possa voltar para ele. Ele está acordando o amor que pulsa em você para que esse amor retorne para ele. Mas há que se ter certa coragem para amar, há que se ter certa coragem para essa entrega. Reze por ela, peça por ela, peça ao princípio universal do amor que te dê essa força, essa firmeza para você seguir esses comandos que vêm dele.

Chega um determinado estágio da jornada em que você não consegue sozinho, você não consegue continuar subindo sem coração, sem, realmente, a intervenção do plano da hierarquia superior. Mas essa intervenção acontece quando você usa seu livre arbítrio para isso, quando você pede através da oração.

Então, o que você quer de verdade? Você quer ser livre mesmo? Você quer mesmo viver de amor? Ou você quer continuar controlando? Apegado? E usando conhecimento espiritual para se defender, para fingir que você está caminhando? Chega esse momento em que a gente tem que se questionar: “quem em mim quer realmente essas práticas espirituais? Para quê?” Tudo é possível, tudo! Esse universo é tão permissivo! É impressionante como é permissivo esse universo. A verdade é que tudo pode, mas você tem que dar conta dos seus pensamentos, palavras e ações; esse é o seu principal instrumento de aprendizado, é assim que você aprende: errando, acertando, caindo, levantando; até que você possa se distanciar dessas subidas e decidas, e só assistir, só assistir, até se tornar uma testemunha de tudo que se passa. Aí você está livre de verdade.

(Músicos cantam bajhans)

Impressionante a capacidade dessa sangha de dar passagem para a beleza, especialmente na forma da música. Para completar o discurso, eu quero dizer que eu obviamente vejo que essa sangha é formada por muita gente jovem, muita gente matriculada na universidade dos relacionamentos. Eu tenho uma sugestão: medite junto com o seu parceiro, sente junto para fazer sua prática espiritual e logo você vai poder compreender muita coisa.

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos ser canais de união.

Até nosso próximo encontro.

Namaste.

http://www.sriprembaba.org/pt-br/satsang/091014

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